Você já deve ter visitado alguma empresa onde chegou à conclusão de que ela era ultrapassada ou atrasada. Esse ponto de vista pode ser fruto de vários fatores relativos a gestão, mas também pode envolver aspectos comportamentais.
Nos últimos anos, com o crescimento exponencial de ameaças tecnológicas, os chamados crimes cibernéticos, o fenômeno do medo também aumentou. Mas esse não é um fenômeno novo. A chamada tecnofobia, o medo da tecologia, vamos esclarecer junto com outra palavra com o significado oposto, a tecnofilia, fenômeno no qual as pessoas encontram em cada nova contribuição tecnológica, principalmente naquelas situadas no âmbito da informação, a resposta final para os problemas.
Ao longo do desenvolvimento das sociedades, toda tecnologia disruptiva apresentou algum efeito temerário. Na agricultura, houve temor em relação à substituição do trabalho humano ou animal por máquinas.
Algum grau de ansiedade, desconfiança ou resistência em relação às novas tecnologias é normal. Nossa mente é programada para ter cuidado com o que é desconhecido. Depois que nos habituamos a uma nova ideia, a admiração e o desejo de ter ou usar aquela tecnologia prevalece.
Para um número significativo de pessoas, como trazido no início do artigo, o temor aumenta, levando a um quadro que pode ser caracterizado como tecnofobia. E não há uma causa específica para isso. Essas causas podem envolver fatores culturais, religiosos, sociais, intelectuais, psicológicos, ideológicos e assim por diante.
Os inimigos das inovações são vários, mas os medos são cientificamente comprovados. O professor de ciência, tecnologia e relações internacionais da Escola Kennedy de Harvard, Calestous Juma, estudou por dezesseis anos a resistência às mudanças tecnológicas ao longo da história. A pesquisa resultou num livro e estamos compartilhando algumas informações de seu conteúdo aqui.
Vamos destacar agora, os principais motivos para a resistência:
O primeiro é a resposta intuitiva à novidade. Para exemplificar, a energia elétrica, quando incomum na sociedade, era vista como uma ameaça séria à vida, até mais que o fogo, cujas formas de controle eram dominadas.
O segundo fator são os interesses pessoais, como o medo de perder o emprego para uma máquina ou de um tipo de produto parar de ser vendido por conta do surgimento de outro. Aqui, a resistência não se deve ao novo, mas à percepção de prejuízo em potencial.
O terceiro é, provavelmente, o que mais se manifesta atualmente: os desafios de aptidão. Uma pessoa pode ter mais dificuldade para dominar um novo artefato ou a tecnologia.
Num estudo recente da CNI (Confederação Nacional da Indústria) considerou uma rol de soluções técnicas da indústria 4.0 como: controle remoto de processos de produção, aplicações de inteligência artificial nas fábricas, robôs colaborativos, dispositivos “vestíveis” utilizados por trabalhadores (como relógios inteligentes) e coleta e análise de grandes quantidades de dados (também chamadas de Big Data, no termo em inglês).
Do total de empresas, 69% usam baixo índice de tecnologias digitais e entre os desafios ou obstáculos internos apresentados pelas empresas estão os altos custos de implementação (66%), estrutura e cultura da empresa (26%), falta de clareza sobre o retorno de investimento (25%), falta de conhecimento técnico (25%) e dificuldade para integrar novas tecnologias e softwares.
Quanto às barreiras externas pesquisadas estão: a falta de trabalhadores qualificados (37%), dificuldade para identificar tecnologias e parceiros (33%), clientes e fornecedores ainda não preparados (29%) e ausência de linhas de financiamento apropriadas (20%).
A falta de trabalhadores qualificados está em todas as áreas que operam com tecnologia porque não existem pessoas para ocupar as vagas existentes ou porque empresas decidiram investir na contratação de menos qualificados e promover a formação. Porém, isso retarda o desempenha das empresas. E esse quadro vai piorar nos próximos anos.
Todos esses fatores, aliados ao medo das ameaças cibernéticas, que pode ser individual ou coletivo, podem ser as causas que emperram a inovação nas empresas.
Para ilustrar, recentemente uma empresa que atua num ramo bem especifico e que há poucas no Brasil, revelou que as “fichas” de clientes tinham que ser preenchidas e papel e eles precisavam ter a assinatura. Essa morosidade emperrava de tal forma a empresa, que as funcionárias, que tinham alto potencial para atividades estratégicas, tinham que revisar todo o processo no papel e inserir no sistema. Consegue imagina o atraso da empresa?
Quando o medo existe na pessoa do gestor, ele pode ser representado na gestão dos negócios ou de uma empresa.
O que Pode Ajudar
A informação é a melhor estratégia para qualquer comportamento que se caracterize como medo da tecnologia, da inovação e até mesmo tecnofobia. Para a pessoa nessa situação, procurar entender os benefícios das tecnologias que ela repele, ajudará a ter mais facilidade para aceitá-la: ela deixará de enxergar ali uma ameaça e terá mais disposição para usar a tecnologia de modo seguro, uma vez que ela é, mas o ponto de vista da pessoa ou do gestor, são os inimigos.
Sua empresa está ultrapassada?
REFERÊNCIAS
Foto da capa: Freepik https://www.freepik.com/free-photo/grand-parent-learning-use-digital-divice_21196228.htm acesso em 24 de agosto de 23.
A parte do Título que está entre aspas, refere-se ao livro de Calestous Juma, professor de ciência, tecnologia e relações internacionais da Escola Kennedy de Harvard: Innovation and Its Enemies: Why People Resist New Technologies, que traduzido: (Inovação e seus inimigos: por que as pessoas resistem às novas tecnologias, em tradução livre).
Agência Brasil: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2022-04/sete-em-cada-dez-empresas-no-brasil-utilizam-tecnologias-digitais acesso em 24 de agosto de 23.
Quando o Medo da Tecnologia Fala Mais Alto: https://tecnoblog.net/especiais/tecnofobia-medo-tecnologia/ acesso em 24 de agosto de 23.